sábado, 25 de fevereiro de 2012

Diário de um Medroso

Escrito por: Augusto Gattone

   Serpentes? Eu tenho uma enorme no meio das minhas pernas. Aranhas? Opa, ta ai uma coisa bem legal de se ver. Lugares apertados? Palhaçada, claustrofóbicos são apenas pessoas com medo de admitir que não conseguem enfrentar sozinhos seus problemas. Altura? Porra, fala sério, nós nascemos para voar!

   Tenho medo de outra coisa.

   Suponho que esses sejam os medos mais comuns. Mas existem outros.

   Eu não tenho medo nenhum daquela criatura gosmenta que se escondeu atrás do armário do meu quarto, parecendo um grande cérebro ou um coração com quatro enormes olhos amarelos. Às vezes ele fala um gelado sussurro.

   Não tenho medo daquele homem que começou a aparecer na calçada por onde eu passo, com seu uniforme militar aos trapos, mostrando-me momentos da minha vida em fotos. Anteontem era um bebe. Ontem um adolescente, e hoje de manhã foi meu corpo apodrecendo dentro de um caixão.

   Não tenho medo do enorme buraco perto do meu fogão, que leva a um túnel que parece ser infinito, com paredes feitas de pele humana e ossos, coberta de bocas com dentes afiados que estão sempre falando em algum idioma que humano algum jamais falou. Se eu entrar lá, insetos enormes vão querer entrar pelos meus orifícios e vermes gigantes vão sair das paredes para tentar me devorar.

   Não tenho medo da gigantesca possa de sangue no parque, que parece ter vida própria. Dependendo da hora do dia, se eu me aproximar, vejo o reflexo de minha alma, escura, densa. Ou, de vez em quando, vejo um navio pirata que leva a um abismo, no subsolo do universo, com feixes de luz que brotam por uma fonte invisível. Coisas nadam nessa fonte, muitas coisas estranhas.

   E eu não tenho medo do ser que me segue por aonde eu vou, e eu acho que só não o via antes por que eu não queria ver. Ele é parecido com uma enorme marionete ventríloqua, com três vezes a minha altura. Não tenho medo nem quando ele me acorda no meio da noite, alisando seu órgão sexual nas minhas pernas, não tenho medo nem quando ele me olha pela janela enquanto tento dormir, e, por um instante, tenho a impressão de estar vendo a mim mesmo, como um reflexo.

Não só não tenho medo, como também não me lembro de ter tido medo alguma vez na vida. E acho que sei por que. São eles, que tiram meu medo, se alimentam dele. Ou melhor, é mais um... Casamento. Sim eles estão ligados, de alguma forma, ao meu medo. É o próprio medo. Minha arma contra o medo.
   
   O Medo encarnado.
Agora, antes de terminar de ler esse relato, faça uma pausa, trinta segundos é o suficiente.

   O que é medo para você?

   O que seria covardia?

   E pânico?

   E o que é terror?

   Bom, enfim, não lhes devo uma explicação. Mas se você sabe responder a todas essas perguntas, sinto muito. Eles já devem estar lá nesse momento. Em seu armário, debaixo da sua cama, dentro do espelho, ou atrás da porta. E eu só tenho um medo.

   Eu tenho medo do que eles podem fazer com você quando encontrá-lo.

   Sinto muito, mas foi minha única saída.

   Espero que entendam antes que seja tarde demais, e acabem em um lugar como o que eu me encontro. Criei um mundo inteiro para mim, e fiquei com medo da realidade.

#Fim# E tome cuidado lá fora.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

O Rei dos Reis

Escrito por:Augusto Gattone
 
    Tenho em mim todos os sonhos do mundo.

   Eu sou um Deus, sou um pistoleiro, sou um guerreiro, sou um caçador, sou um assassino, sou a luz, sou a escuridão.
   Eu sou o dia, eu sou à noite. Sou excêntrico, sou viajante do tempo. Eu sou o rei de tudo e de todos.
   Eu vivo em um castelo, rodeado por florestas mágicas, cheias de vida e encanto, sou tão forte que coloco o sol para dormir todos os dias.
   Poderia ficar aqui por um bom tempo contando historias sobre minhas batalhas, meus duelos de magias, ou minhas lutas contra dragões.
   Ou como da vez em que lutei contra um leão sedento por sangue.
   Estava andando pelo vale das sombras a procura de caça, um hobby que tenho a milênios de anos, antes mesmo da extinção dos dinossauros eu já era um exímio caçador. Naquela tarde por puro azar, decidi levar apenas minha lança para caçar.
   Eu estava sozinho como de costume, rodeado pela densa floresta do Vale Das Sombras, o lugar mais perigoso e remoto de todo o mundo, e um silêncio assustador pairava no ar aquele dia.
   Algo estava errado, eu tinha certeza. De re pente, ouço um enorme e barulhento rugido, na hora eu não sei o que passou pela minha cabeça, não tinha idéia de que diabos era aquilo.
   Então do meio das arvores, correndo como a luz, surge um leão enorme, pulando em minha direção, cravando as garras em meus ombros e tentando morder meu pescoço.
   Porém eu sou um Deus se lembra? Nada pode me deter muito menos um leãozinho daqueles. Com toda a força que me restava eu chutei a barriga do felino e ele voou para frente e bateu bruscamente em uma arvore, levantei-me e fiquei preparado para outro ataque.
   O Leão se levantou meio atordoado e começou a andar em círculos, olhando diretamente nos meus olhos, minha lança não ia ajudar em muita coisa, por isso a joguei no chão e decidi usar a força bruta, uma força que adquiri ao longo dos séculos, matando dragões, monstros, gigantes e qualquer outra coisa que se rasteje. Então o Leão veio, fechei meus olhos e me concentrei, e instantes antes do leão me abocanhar, eu o agarrei pela mandíbula e o matei, rasgando-o de ponta a ponta.
   E então dei um grito de guerra! Um grito agudo e estridente, talvez se você passar pelo Vale das Sombras um dia desses, você ouça o eco do meu grito, são o que alguns caçadores que passam por lá dizem, mas isso é apenas uma lenda, não vem ao caso.
   Para terminar, você deve estar se perguntando que diabos eu sou? Eu sou um Deus, sou um pistoleiro, sou um guerreiro, sou um caçador, sou um assassino, sou a luz, sou a escuridão. Eu sou o dia, eu sou à noite. Sou excêntrico, sou viajante do tempo. Eu sou o rei de tudo e de todos.
   Pois bem, sou apenas um garoto sonhando alto, dando asas à imaginação, deixando as palavras tomarem forma, e assim podendo viajar na riqueza de um sonho. Sonhos não morrem jamais, apenas adormecem na alma da gente.

#FIM#

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

A Caminho do Inferno

   Escrito por: Augusto gattone

   Baseado em um incrível homem, que foi um verdadeiro herói. Talvez vocês já ouviram falar de Audie Murphy, o homem que foi ao inferno e voltou.

   Menos de cinqüenta quilos, um pouco mais de um metro e meio de altura, febril, com dor de cabeça e enjoado, Murphy se tornou um eficiente, dedicado e mortal guerreiro durante a Segunda Guerra Mundial.  Comandando uma dúzia e meia de homens treinados para matar dentro de alguns tanques que segue em direção aos alemães.
   Ele não sabe quantos são, nem tem para onde fugir. E como se não bastasse, ouviu dizer que os inimigos estão com um novo rifle com enorme poder de fogo.
   Murphy tem apenas vinte anos.

   Ao longe, se vê os tanques inimigos se aproximando. Era um homem dele para cada tanque alemão. O seu melhor amigo, de dentro de um tanque, começa o ataque. 
   Murphy com um rifle de precisão, detrás de uma pedra acerta qualquer um que não estivesse protegido.

   Ouve-se um estrondo como o de um trovão, de repente o calor aumenta. Murphy olha para trás e vê o tanque de seu amigo pegando fogo.
   Ele podia ouvir seus gritos de dor. Em meio aos sons aterrorizantes de guerra, todos ouvem nitidamente a voz aguda mandando que recuassem. Enquanto seus homens fogem, Murphy entra no tanque em chamas e começa a atirar nos alemães.

   Os minutos se passando, a febre e a náusea aumentam. Sangrando e completamente exausto, Murphy vai parando um a um os tanques inimigos, um a um. A fumaça começa a tornar sua respiração cada vez mais difícil.  Ele imagina que, mesmo sendo um assassino sem anseio em matar, nenhum inferno poderia ser pior do que aquele.  
   Outro pensamento angustiante passa por sua cabeça: Ele não é um assassino, ele gosta mesmo é da batalha de alguma forma ele se sente bem. Mas quem se importa com isso?  No final não vai fazer a menor diferença.
   Cinqüenta e dois minutos depois, quase todos os inimigos morreram. E aquele maldito tanque ainda pegando fogo, poderia explodir a qualquer momento.
   O cheiro de sangue, carne queimada se alastra pelo ar. A munição acaba. A adrenalina rasga um sorriso no rosto de Murphy.
   É hora da cartada final.

   Murphy sai do tanque e atira contra os inimigos com uma pequena pistola, enquanto foge. O último tiro mata um alemão que tentava fugir desesperadamente, e ele joga a pistola fora.
   Começa a correr com todas as forças. Corre sem olhar para trás. Tiros por todos os lados, e buracos de balas começam a nascer a sua volta, mas ele não para, nada pode pará-lo. Ao descer a colina, bem a frente dos inimigos, Murphy viu seus soldados aguardando ordens.

  -Comandante, onde você estava?- Um deles grita em tom insaciável.
  -Eu fui ao inferno e voltei-Ele responde.
   O tanque explode bem atrás dele, apenas meia-dúzia de inimigos sobreviveram.
   Murphy cai no chão, rola alguns metros, mas logo se levanta e continua a correr, sem necessidade, mas por reflexo ele grita. - Ataquem!

   Todos os soldados vão para cima dos inimigos. Eles tentam fugir, mas são todos alvejados. E Murphy continua a correr em direção do sol. 
   Já não pensa mais, às vezes ele vê alguns tiros imaginários o perseguindo. Mas nada pode Pará-lo. Corre como se não existisse amanha, como se nada mais importasse.
   Não olha para os lados, não olha para trás e, talvez, também não olhe para frente. E continua a correr.
   Continua a correr pelo resto de sua vida, até morrer em uma fria tempestade de raios anos depois.  Só o que resta é a duvida que seus soldados tiveram quando o viram fugir daquela enorme explosão.
   -Fugindo ou tentando alcançá-la?                                                                        

#FIM#


terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Medo do Escuro

Escrito por:Augusto Gattone

   Um simples conjunto de pensamentos escrito por mim,em uma fria noite, aonde o meu unico cenário éra a escuridão.
 


    Em mais de uma ocasião, eu tentei explicar às pessoas como eu tinha pesadelos e sentia medo do escuro. Para mim, a escuridão não era simplesmente a ausência de luz, mas sim algo mais tangível que isso.
   Era algo que você podia tocar e sentir, ou pior ainda, era alguma coisa que possuía uma mente própria, algo malicioso, assustador mortal e maligno. Para mim, as coisas mudavam quando a escuridão os envolvia tudo se convertia em algo diferente, estranho e fora do normal.
   Ao certo nada estava a salvo ou recuperava sua inocência.
A verdade é que ninguém nunca deu ouvidos as minhas palavras até algum momento. Talvez até o momento em que elas são vitimas das minhas palavras, do que eu tentei avisar. Mas quem se importa com as simples palavras de um louco, que morre de medo do escuro, medo do mundo, todos dão risada de mim.
 Mas os meus piores medos, não são esses, não é medo de dormir e ter um horrível pesadelo, ou medo de apagar as luzes do meu quarto antes de deitar-me, e assistir a escuridão olhando para mim com seus olhos negros de morte.
   Ao certo não sei qual é o meu maior medo, talvez seja saber que lá fora no mundo, todos nós estamos sujeito à maldade que consome as pessoas, pessoas comuns, uma pessoa normal, e até mesmo uma criança inocente.
   Stephen Kings uma vez mencionou em um livro cujo agora não me lembro o titulo de cabeça, que "Os Pesadelos não estão sujeitos à lógica, não tem sentido explicá-los, a explicação é a antítese da poesia do medo".
   Em uma historia de terror, a vítima continua a se perguntar "por que", no entanto não há explicações, não deve haver.
   O mistério sem respostas é o que perdura, o que sempre acabamos recordando.

   Interprete minha historia como um pesadelo ou como algo real, trata-se de uma escolha que você faz.

 Ao certo não me lembro onde eu estava quando despertei, como de fato eu me encontrava atrasado para chegar em algum lugar, parecia que era um farol. Eu estava sozinho, no meu carro e infelizmente avistei o caroneiro tarde demais. Só fui ver quando os estilhaços do vidro do meu carro se partiram em milhões de pedaços e o meu carro derrapou brutalmente. O homem voou alguns metros à frente e parecia estar morto, minha cabeça estava doendo e sangrando.
   Por um segundo eu pensei em sair daquele lugar, pois sabia que se a policia chegasse naquele local naquele exato momento eu iria ser preso por atropelar um pobre-homem que estava apenas pedindo carona. Sai do carro, lá fora estava nevando, não dava para enxergar quase nada, se não fosse pelos faróis do carro, com certeza eu nunca teria saído daquele maldito carro.
   O vento era tão forte lá fora que parecia arrancar a pele fora. Eu não gostava daquele lugar e nem da escuridão que me rodeava, parecia que ela estava viva, me observando solenemente e eu podia ver a pura maldade nela. Andei lentamente até aonde eu tinha visto o corpo do caroneiro.
   Porém quando cheguei no local, os faróis do meu carro se apagaram, e o corpo do caroneiro não estava mais lá. O medo me consumiu pouco a pouco, eu não conseguia me mexer, estava com frio, quando eu voltei à realidade, fui para o carro o mais rápido possível. Entrei e girei a chave no contato, o carro ligou e eu pisei no acelerador.
   Que diabos eu tinha acabado de presenciar? Impossível aquele maldito homem ter sobrevivido. E por incrível que pareça eu estava suando frio naquele exato momento, estava prestes a surtar, queria acordar, pois sabia que aquilo era um pesadelo, era uma cena de pesadelo, mas eu não estava dormindo e sabia disso pois continuava acordado.         Estava correndo no meio a escuridão, a neve estava mais forte e de repente a alguns metros de distancia, na frente do meu carro, o homem reaparece agora em uma forma um tanto fantasmagórica, e em uma tentativa sem sucesso eu virei o volante do meu carro, que começa a rodar e rodar, quando me dei conta pude perceber que estava gritando desesperadamente o tempo todo, até o carro atingir fatalmente uma arvore e me deixar entre a vida e a morte. Senti o mundo acabar, sabia que naquele momento estava morrendo, e o que dizem sobre a morte realmente é verdade, toda aquela coisa de ver uma luz brilhante no fundo do túnel, eu realmente vi esse luz, e vi minha vida toda passando diante dos meus olhos.
    A última coisa de que eu me lembro antes de apagar, foi olhar para o espelho retrovisor e ver sentado no banco traseiro do meu carro, aquele caroneiro, com um chapéu cobrindo os olhos, uma jaqueta preta e um sorriso hediondo estampado no rosto, um sorriso prazeroso, por acabar de arrancar mais uma vida inocente.
   Quando eu acordei estava em uma maca, não sei ao certo o porquê eu estou aqui nesse lugar cheio de gente malucas. Acho que eu estou em um hospício, é o que dizem algumas pessoas por ai. Também ouvi alguns homens de branco dizer que eu era um lunático e esquizofrênico paranóico.
   Não sei o que quiseram dizer, porém antes deles saírem do meu quarto, fui obrigado a pedir que não desligassem a luz, pois até aquele momento continuava tendo muito medo do escuro.
   E se você estiver lendo isso, significa que eu já estou morto, isso tudo já aconteceu há algum tempo atrás, depois disso tudo acontecer, algumas pessoas brincaram com a minha cabeça, fizeram alguns jogos e me deixaram confuso.
   Foi assim por muitos anos, até me levarem para o corredor da morte, culpado por atropelar um senhor de idade que procurava carona durante uma noite fria de inverno. E hoje, onde eu estou eu não tenho mais medo da escuridão, por que a escuridão não existe, é apenas a ausência de luz, o mal não existe é apenas a ausência da bondade, enfim, nada seria perfeito se não existisse uma versão ruim de cada coisa.
    E minha versão ruim esteve comigo o tempo todo enquanto eu estive na terra, eu podia sentir a escuridão brotando dentro de mim, como uma idéia maléfica crescendo em minha mente, consumindo a minha bondade, ou apenas o que restava dela, dia após dia, isso me consumia, a escuridão estava em mim, foi assim comigo e é assim com muitas pessoas, isso nunca vai mudar. Siga a luz, pois a escuridão destrói. “Não tenha medo de enfrentá-la, só assim você poderá derrotá-la e se livrar do pecado.”

   O frio existe? Na verdade o frio não existe, o que nós consideramos frio é na realidade ausência de calor. É a mesma coisa com a escuridão, a luz nós podemos estudar, mas não a escuridão, portanto o mal não existe, é a mesma coisa da escuridão e do frio. Deus não criou o mal, ele é apenas o resultado do que acontece quando um homem não tem Luz o suficiente presente em seu coração.

#FIM#

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O fim e o Começo

    Escrito por: Augusto Gattone

   Antes de começar a ler, quero dizer que esta foi a minha primeira historia, antes havia escrito apenas alguns contos. Sempre gostei de escrever, mas tenho um pequeno bloqueio que às vezes me prejudica, e então dia 7 de Dezembro de 2011, véspera de natal, eu acordei as nove e 30 da manhã e não tinha o que fazer. Comecei a escrever esta historia por brincadeira, algo que eu havia sonhado na noite passada, não ia publicar, porém ficou melhor do que eu imaginava. Uma historia que fala sobre morte, arrependimentos, perdão, enfim. Boa leitura e obrigado a você que esta lendo agora. E acreditem existe muito além da morte.
                                                                                                                            
   *Noite fria de inverno 1981

   Michael um detetive triste com a vida, angustiado, cheio de arrependimentos e excêntrico, acaba de acordar de um sonho um pouco inquietante, mas pode perceber logo de cara que algo esta errado com ele, muito errado. Michael não se lembra de nada, esta perdido em um abismo de escuridão, não existe nada naquele lugar, apenas ausência de luz total. Sua cabeça esta doendo, e ele esta sangrando.
   Com um grande esforço Michael se levanta e de repente sente seu estômago se revirar, o mundo parece se inclinar diante de seus olhos e então ele cai de joelhos.
   -O que é isso? Onde eu estou?-Michael diz silenciosamente enquanto massageia levemente as têmporas que dói bastante- Se eu pudesse me lembrar de algo, mas esta tudo tão confuso- Então algo chama a atenção dele, uma luz, vindo de um lugar distante, uma luz forte parecendo à luz do sol numa tarde de verão, ou talvez a luz do sol iluminando uma escura noite de inverno. Nesse momento ele se levanta e começa a caminhar, parece que algo transmitiu uma pequena força o suficiente para manter ele de pé. 
   Uma voz começa a sussurrar em seu subconsciente, uma voz que algum dia Michael ouvira em algum lugar, porém naquele momento não se lembrava de nada, nem ao menos conseguia ouvir o que a voz dizia, parecia alguém pedindo alguma coisa, ajuda talvez? Ninguém sabia.

   -Vamos Mike, você consegue-A voz ficou cada vez mais nítida e agora ele podia ouvi-la perfeitamente, e cada palavra que soava no meio a escuridão, as feridas de Michael se regenerava pouco a pouco e ele se sentia cada vez melhor. Michael começou a correr em direção à luz, o solo se inclinou Michael apagou novamente e quando acordou já não estava naquele maldito lugar escuro, estava em um lugar muito distante da luz, um lugar sombrio, uma estrada, que parecia ser infinita. Por um segundo sentiu que deveria voltar para trás e entrar naquele lugar novamente, mas seu instinto não deixou, ele estava curioso e amedrontado ao mesmo tempo, estava atrás de respostas, e sabia que qualquer lugar seria melhor do que a escuridão.
   Começou a caminhar lentamente pela estrada mal iluminada, o uivo do lobo era o som, o som da madrugada, sangue podre e morte flutuavam pelo ar. Conforme ele caminhava, podia sentir um milhão de olhos lhe observarem silenciosamente, olhos negros carregados de maldade. Michael viu aquela estranha luz novamente, estava mais distante dessa vez, tudo sumiu ao seu redor a não ser a estrada e os pequenos olhos, no fim da estrada estava à luz novamente aguardando-o solenemente, e de alguma forma ele sabia que deveria alcançá-la, seu instinto sabia disso.
   Michael andava, mas parecia nunca sair do mesmo lugar, como se estivesse andando em círculos, começou a acelerar o andar, e atrás dele sentia que alguém o acompanhava, andando conforme ele andava, correndo conforme ele corria e parando conforme ele parava. Como uma sombra
   -Ta legal já chega!-Michael se virou, porém deu de cara com a escuridão, nada além de escuridão, ficou boquiaberto, o que quer que estivesse ali segundos atrás, não era daquele mundo. Alguma coisa estava seguindo Michael. Ele ficou parado por alguns segundos e quando se virou estava lá, na frente dele, parado como um zumbi a menos de um metro de distância, segurando um machado nas mãos, uma pessoa, com rosto cadavérico, profundas olheiras e um sorriso demoníaco estampado no rosto.
   Michael deu um grito e caiu no chão, foi recuando cada vez mais, a criatura se aproximando lentamente com o machado levantado na mão. Michael pode perceber que a criatura não mexia os pés, apenas se movia lentamente sem fazer um movimento sequer nas pernas, uma cena assustadora. Então a criatura ergueu a mão o mais alto possível, prestes a atacar, Michael se preparou para o pior, fechou os olhos prontos para morrer, pois sabia que não havia saída e viu sua vida toda como um Flashback passar lentamente, desde o inicio até o último instante, e então centímetros antes do machado o atingir fatalmente na cabeça Michael se lembrou da família, a esposa Katie, as filhas Susan e Jane, seu pai Martin sua mãe Katharine, lembrou de tudo, cada momento com cada um deles. Pediu desculpas pelos seus pecados, se arrependeu de deixar as coisas para depois, estava arrependido de muita coisa, muitos erros que cometera na estrada da vida, muitas decisões difíceis que teve que tomar, lembrou do rosto de todos os assassinos, psicopatas, estupradores que havia matado durante sua longa carreira de 16 anos na policia, porém queria viver mais, para corrigir os erros passados, lutava contra a morte e lutaria quantas vezes fosse necessária para pelo menos uma vez mais ver a luz do sol junto à sua família, lágrimas estava escorrendo de seus olhos, sentiu saudades do mundo, dos amigos e de tudo que rodeava seu dia-dia . 
   E então segundos antes do machado atingir sua cabeça surge àquela misteriosa voz novamente, vinda do além.
   -Amor, querido agüente firme, fica comigo amor, fica comigo, o que houve com você? Volte para mim volte para nós, eu sinto tanto a sua falta. -E tudo fica preto novamente, aquela cena desaparece e Michael novamente cai no abismo de escuridão.
    Parece que ele esta no inicio novamente, quando acordou e estava perdido na escuridão é a mesma cena, porém ele esta mais forte, não esta ferido, sua cabeça esta doendo menos e ele esta mais confiante do que nunca que o fim de tudo aquilo esta mais próxima do imaginável.

   Enquanto isso no hospital de L.A, uma moça chamada Katie segura à mão de seu marido que se encontra em coma profundo a mais de 13 semanas após um grave acidente de trabalho que resultou em um forte trauma no seu cérebro.
   -Talvez minha senhora, sinto dizer, mas seu marido nunca saia do coma, o dano no cérebro dele foi muito forte, ainda existem fragmentos de bala alojados-Afirma o experiente D.Harper enquanto examina cuidadosamente o resultado do Raio-X do cérebro de Michael -Mas milagrosamente o cérebro dele parece estar se regenerando pouco à pouco, e tenho que afirmar que nunca vi nada igual antes, enfim, ele é um homem forte, ninguém agüentaria passar pelo que ele passou por tanto tempo assim. Bom o dever me chama. Até mais tarde - Harper ergueu a mão se despedindo de Katie que apenas sorriu angustiada e voltou a fixar profundamente o olhar para Michael.

   O que é a morte? O fim ou o inicio da vida? Poucos sabem, mas para Michael a resposta estava mais próximo do que ele poderia imaginar. O nascimento é o inicio; repensar atitudes é o inicio; pedir desculpas é o inicio; morrer como se nunca tivesse vivido, é o fim; a morte.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O Piano



Escrito por: Augusto Gattone

   Descendo lentamente pelas escadas de madeira em direção ao porão, o pequeno Kurt fazia força para enxergar algo naquela escuridão.
O antigo piano tocava, podendo ser ouvido do quarto de Kurt, que perturbado e meio amedrontado, foi ver quem estava tocando às 4 da manhã. Odiando quem estava lá, foi arrastando os pés, de pijama, com os olhos quase fechados, mas cada vez mais próximo ao porão de onde vinha o som, seu coração parecia acelerar a cada passo.
   Estaria ele se aventurando pelo desconhecido humano?
   Algo vindo de outro mundo tocando o piano no orfanato de Paradise Falls? Assombrando-o? Estaria ali um fantasma ou quem sabe aquele maldito piano estaria tocando sozinho: Suas teclas afundando apenas ao toque do ar?
   Ele preparava-se para a surpresa ao pé da escadaria.
   A música não cessava, e agora ele podia ouvir nitidamente.
Ergueu a mão para puxar a cordinha da lâmpada sobre sua cabeça.
A luz, mesmo sendo mínima, iluminou todo aposento, revelando o pai de Kurt na frente do velho piano, que parou de tocá-lo instantaneamente.
   - Ora, me desculpe Kurt, papai te acordou?-Perguntou ele virando-se para encarar o filho - Prometo tocar mais baixo, agora volte para cama, afinal já esta tarde não? E você precisa dormir daqui a algumas horas vou te acordar para darmos uma volta que tal?
O filho sorriu, porém não disse uma palavra, apenas correu em direção ao topo da escadaria.
   - Espere. Desligue a lâmpada para o pai antes de ir.
Kurt desligou e voltou a correr pelos degraus.
   O garoto não fazia noção de que seu pai voltara a tocar piano, agora, com um sorriso hediondo no canto da boca, seus olhos tornando-se cada vez mais negros como a escuridão que o cercava, e sua pele cada vez mais pálida em contato com o escuro.
   

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Jardim do Éden

Escrito por: Augusto Gattone

   -Chegamos! –Disse Jimmy Keller, observando além do trem de pouso, onde o foguete descansava no meio do deserto.  Um vento solitário soprava, e Hugh Bullford disse:
   -Sim, finalmente chegamos. Vamos conhecer Niburu. Mas será que é realmente seguro sair da nave?
   -Bom, não sei- Respondeu Keller- Simplesmente não sei.
O foguete estava aterrissado sobre Niburu. Bullford deu uma conferida no ar e exclamou em tom assombrado:
   -Mas como?..., o ar é bom, como o velho ar da Terra! Perfeitamente respirável.
Então ambos saíram, e foi à vez de Keller se espantar.
   -Será possível, é como a primavera na Terra! Tudo verde, colorido e bonito. Cara, é simplesmente... É o Paraíso!
   Saíram do foguete. As frutas eram exóticas e deliciosas, a temperatura perfeita, tudo maravilhoso... Até agora. Quando à noite caiu, se prepararam para dormir.
   -Vou chamá-lo de “O Jardim do Éden”-Disse Keller estusiasmado.
  Bullford contemplava o fogo.
   -Não sei por que, eu não gosto deste lugar Jimmy. Sinto de alguma forma que algo esta errado aqui. Há algo...maligno por aqui.
   -Você estava feliz no espaço?-Zombou Keller-Agora durma.
Na manhã seguinte James Keller estava morto.
Em seu rosto havia uma grande expressão de horror que Bullford desejara nunca ter visto.
   Depois de enterra-lo Bullford tentou contato com a Terra. Não obteve resposta alguma, o radio estava mudo. Bullford desmontou-o e montou-o novamente, não havia nada de errado com o rádio mas o fato persistia: não funcionava.
   A preocupação de Bulfford foi apenas aumentando mais e mais. Saiu correndo, à paisagem continuava agradável e feliz. Mas Bullford podia notar a pura maldade nela.
   -Você o matou!-Gritou-Eu sei!
De repente o solo se abriu em sua diração, Bullford voltou correndo para á nave, à beira do pânico. Mas antes colheu uma amostra da terra. Analisou às presas e então o terror tomou conta dele. Niburu estava viva.
   De repente a nave espacial se inclinou e caiu. Bullford gritou. Mas a terra se fechou por cima dele, parecendo uma grande boca se fechando.
   Depois  voltou à normalidade, esperando solenemente à próxima vítima...